Saturday, February 13, 2010
Ora bolas!
Será que os líderes da oposição são todos estúpidos ou são apenas hipócritas armados em santinhos? E o que é que será pior?
Monday, February 1, 2010
Sobre o juízo
Para além do Bem e do Mal, Nietzsche
Friday, January 29, 2010
A violência de estar vivo
Para Além do Bem e do Mal, Nietzsche
Tuesday, January 26, 2010
Aprendendo com Hamurabi? 1
3-Se qualquer um intentar uma acusação de qualquer crime ante os anciãos, e não provar que ele a tenha cobrado, deve, se ela for uma ofensa capital, ser codenado à morte.
5-Se um juiz tentar um caso, chegar a uma decisão, e apresentar sua decisão, por escrito e se mais tarde aparecer um erro na sua decisão, e que seja por culpa sua, então ele deverá pagar doze vezes o montante da coima fixado por ele no Caso, e deve ser publicamente removido de juiz da bancada, e nunca mais ele se deve sentar lá para tornar acórdão.
14-Se qualquer um roubar o filho menor de outro, ele deve ser posto à morte
55-Se qualquer um abrir sua valas para a água a sua cultura, mas é negligente, e a água inundar o campo de seu vizinho, então ele deverá pagar o seu vizinho milho por sua perda.
114-Se um homem não tem nenhum crédito sobre um outro para o milho e dinheiro, e tentar procura-lo pela força, ele deverá pagar um terço de uma mina de prata em cada caso.
115-Se alguém tiver pendente o seu pedido de milho ou de dinheiro após a prisão do devedor e esse devedor morrer na prisão uma morte natural, o caso não deve ir mais longe.
128-Se um homem tomar uma mulher para mulher, mas não tem qualquer relação com ela, esta mulher não é mulher para ele.
129-Se um homem apanhar a esposa (em flagrante delito) com outro homem, ambos devem ser amarrados e lançados na água, mas o marido pode perdoar a sua esposa doá-los ao rei como escravos.
130-Se um homem violar a esposa (nubentes ou mulher-criança) de outro homem, que nunca tenha conhecido um homem, e ainda vive na casa do seu pai e dormir com ela e ser surpreendido, este homem será posto à morte, mas a Esposa é inocente.
131-Se um homem levar uma cobrança contra a própria mulher, mas ela não for surpreendida com outro homem, ela deve assumir um juramento e, em seguida, pode retornar para sua casa.
133-Se um homem é levado prisioneiro na guerra, e há um sustento em sua casa, mas sua esposa deixar casa e judicial, e ir para outra casa: porque esta mulher não manter a sua jurisdição, e foi para outra casa, ela deve ser Judicialmente condenada e atirada na água.
135-Se um homem for feitos prisioneiro na guerra e não haja sustento em sua casa e sua esposa for para outra casa e suportar crianças de outro, e se mais tarde o marido retornar e chegar à sua casa: então esta mulher deve retornar para o seu marido, mas a Crianças ficam com seu pai.
(a simplicidade dói)
136-Se qualquer um deixar sua casa, fugir e, em seguida, sua esposa ir para outra casa e ele voltar e pretender levar a esposa de volta: porque ele fugiu de sua casa e correu longe, a esposa deste fugitivo não deve regressar para o seu marido.
137-Se um homem deseja separar de uma mulher que ele tenha suportado os filhos, ou de sua esposa, que ele tem suportado crianças: então, ele dará a sua esposa dote e uma parte do usufruto do campo, jardim e bens, a fim de que ela possa resguardar seus filhos. Uma parte de tudo o que é dado às crianças deve ser dada a ela na mesma quantidade de um filho. Ela pode então casar com o homem de seu coração.
138-Se um homem deseja separar-se de sua mulher não tem a seu cargo filhos, ele deve dar-lhe o montante da sua compra em dinheiro (...)
139-Se não houve preço de compra dirigir-se-á dar-lhe uma mina de ouro como um dom de libertação.
(as mulheres devem estar frustradas de não ter vivido neste tempo)
141-Se um homem pretende deixar a mulher com quem vive e esta mergulha-o em dívidas, tenta arruinar sua casa, desprezando o seu marido e ele estiver condenado judicialmente: se o seu marido oferecer sua libertação, ele pode ir em seu caminho, e ele não dá nada à sua mulher como um dom de libertação. Se o marido não desejar libertar dela e tomar outra esposa, ela deve permanecer como serva na casa do marido.
(looooooooooooool)
Um bocado violentos mas ao menos não matavam os perpetradores de incestos (e isso é bué importante...lol)
Monday, January 25, 2010
Conspiração e pensamento judaico-cristão
Podemos-lhe chamar o mesmo Deus, a mesma ideia e conceito mas para quê chamar o mesmo à força criadora e à força coerciva. Só sob o ponto de vista em que o princípio determina a lei da existência e como tal a natureza não-livre. Mas o que me parece mais prático é considerar que tais ideias, a
a)criação/base da existência e o
b)obectivo da criação/sentido da existência
sejam analisados separadamente como conceitos diferentes.
Talvez seja mais preciso dizer que o que difere não são as características de Deus-em-si que separam estes dois conceitos mas antes as duas atitudes que se pode ter perante o mesmo conceito unificado. Por um lado podemos-nos focar na veneração do Deus que assumimos mas, se quisermos, podemos avançar para a dedução que se existe uma força que sustenta o mundo, eu devo descobrir as regras em que ele se sustenta e impor essas regras de conduta que visam respeitar a sua existência. Por fim, posso chegar ao ponto de para além de o venerar, de lhe obedecer e aceitar limitações nos meus actos, deduzir que se ele tem regras que por vezes não são cumpridas, então devo lançar um plano de renovação do mundo que visa chegar ao ponto que ele não seja mais contestado.
É aqui que começa a politização desse Deus. Ao invés de Deus ser procurado para inspiração divina e os sacerdotes tenham como função dar concelhos que sejam pedidos, o desespero e a sede por respostas alimenta de tal maneira o poder dos sacerdotes que agora já não são pedidos concelhos a eles. São eles próprios que enfiam os concelhos à força na cabeça das pessoas. É provavelmente sinal de que os concelhos começavam a falhar e a ser questionáveis.
Onde acho que está o erro?
Ora assumiu-se, no caso do judaísmo que Deus criou o mundo mas que ao mesmo tempo interferiu na sua criação. Que lançou as bases e leis da Natureza mas que logo depois voltou para interferir nas próprias leis que activou. Não será que esse Deus que voltou na verdade, seja outro Deus, outro conceito, outra ideia. Ele disse como tudo funcionava, iniciou a causa efeito e o outro veio dizer que era preciso agir a fazer o que ele mandava. Mas ele já tinha ditado as regras, venham-se elas a saber ou não.
A forma como estas duas componentes do mesmo Deus se podem encaixar e funcionar politicamente é a seguinte.
Temos a visão "de cima":
Desta forma posso utilizar a ideia de Deus para a seguinte visão: "Se Deus existe não sei mas o poder de motivação que advém dessa ideia é tentador" daqui vem a motivação para mandar, alterar condições...
E a de "baixo":
"Se Deus existe, não sei, mas a justificação da existência que advém daí é bastante consolador e reconfortante." daqui vem a motivação para o conformismo, para a predisposição à obediência àqueles que utilizam a visão de "cima"
O facto é que nem todas as culturas se focam na mesma intensidade nas duas componentes e é nestes termos que eu dou destaque aos povos judaico-cristãos que são um caso extremo de aplicação da teologia para o estabelecimento de um plano divino/projecto social.
Primeiro usam-se do Pentateuco para explicar o êxodo e justificar a conquista de Canaã em termos divinos e outros povos mais tarde farão o mesmo para as Cruzadas, nesta altura já com os recursos adicionais do novo testamento.
A verdade é que se encontra em todo o lado, na bíblia, passagens que dão a possibilidade de se fazer um coisa ou o oposto disso. Vai sendo escolhida ao longo dos tempos a interpretação a fazer, as partes que interessam e as partes que não interessam com vista a servir as suas intenções ou apenas a estupidez e vontade de ilusão colectiva.
A coerção nasce da aceitação que se faz da ordem e não da ordem em si. A teoria da conspiração eleva a inteligência do opressor a um tal ponto que imagina que os vícios do sistema político são ditados "de cima" como um Deus-aranha.
Mas o que é preciso acima de tudo é adeptos, aceitação. Não é o simples acto de mentir que controla as massas. É preciso muita gente, demasiada gente com fome ou desesperada a trabalhar para a mentira e nem Hitler nem Stalin trabalhavam sozinhos na fábrica das convicções. Eles não estavam fora do "mundo dos fantoches". A cadeia da obediência não nasce tanto da mentira mas mais de um não interesse pela verdade.
O Deus ex-machina só existe na nossa cabeça e o mesmo se deve dizer dos demónios seus derivados. Até à queda do muro de Berlim era inacreditável a quantidade de comunistas que acreditavam no "master of puppets" capitalista, não a ideia, não apenas no conceito de sistema mas sim, na verdadeira união de uns poucos controladores que ditavam os valores ocidentais. Para se pensar assim basta ir buscar uma informação aqui e ali, colar o que chamava mais à atenção (talvez nem sempre intencionalmente) e da relação entre os eventos escolhidos, retirar daí a constatação de uma força maligna ex-machina tal como na Bíblia, a la Saramago, podemos encontrar passagens a damos mais destaque que a outras e deduzir, se quisermos, que é dos escritos que nasce a força do deus mau que se propaga pelos séculos seguintes. Pouco importa que a própria inquisição tenha começado sem a aprovação do vaticano, que as torturas fossem praticadas por iniciativa dos próprios vizinhos e não pelos superiores da igreja e que a ideia de tais procedimentos seja uma contradição com "não julgueis para não serdes julgados". E até que "eu vim trazer a espada e não a paz" tanto pode ser uma ordem como um aviso. Ignorando certas partes, deduz-se que todo o mal deriva da mensagem primordial, da "letra", pois as traduções, as interpretações, as selecções, os cortes, esses com certeza já trazem consigo a "maldição", o "vírus contagioso" dos escritos originais.
Ainda hoje subsistem estas formas de pensar. Certo pessoal que vai gritar à porta do G27 está mesmo convencido da inteligência dos líderes, do poder prático e efectivo e sobretudo da união entre eles para determinar reacções em cadeia com vista ao controlo. Acham que é só à "plebe" que se mente. Que os poderosos não mentem entre eles. São máquinas perfeitamente polidas e a diplomacia é uma máscara que apenas engana os súbditos. Que máquina perfeita esta. Que espontânea organização tem a vontade de poder. Os jornalistas, esses "vendidos", se no New York Times estiveram os 8 anos contra a admnistração Bush, isso significa, claro, que deve existir uma triagem da informação com vista a manter o desagrado contra Bush mas a não afectar as suas decisões.
Existem de facto, culturas - e a anglo-saxónica é mais flagrante - onde se vê o mundo desta forma. A Rainha de Inglaterra não pôde receber o Sá-Carneiro com a sua ex-que-não-se-queria-divorciar. Era a mensagem, a importância de mensagem que estava em jogo. O perigoso "vírus" que se propaga magicamente pelo povo se ele não tiver o exemplo dos "de cima". Mas dentro desta cultura de controlo da moral, temos os efeitos colaterais, aqueles cidadãos intelectualizados que afectados por esta ideia de "ex machina" vêm o mundo da mesma forma, mas desta vez, sentem-se as vítimas dele. Estão no mesmo esquema, têm o bicho mágico-cristão a corroer-lhes a psique mas vêm-se do outro lado do esquema. A serem controlados pelos fios que os poderosos puxam. É tudo tão simples, é só virarmo-nos contra os que têm o poder, cortar os fios e tudo correrá melhor pois a verdade e a transparência do sistema é manipulada por eles. Para se deslindar conspirações na cabeça ou planos que visem manipulação de massas é preciso inteligência. O mesmo tipo de inteligência que se usa para resolver charadas. Mas o mundo não é uma charada.
Para se ver, por exemplo, a versatilidade dos argumentos que se apoiam na Bíblia para uso político, comparemos a América do Norte com a América do Sul.
Exemplo de Hugo Chavez:
http://www.reuters.com/article/worldNews/idUSN1819661120070519
É espectacular ver como de um lado,a religião cristã é usada para justificar o conservadorismo e noutro lado é usada para inspirar o progressismo. Do lado dos progressistas varia bastante os que admitem e os que não admitem a sua herança. A verdade é que o novo-testamento e as seitas proto-cristãs podem ser tudo, tudo, tudo, menos conservadores. É uma autêntica revolução adolescente alucinada de uma busca de justiça extrema e também irreal que se tratou de tentar direccionar a partir de São Paulo.
Mas quanto ao uso dos argumentos religiosos, defender os pobres tanto pode querer dizer que devemos protegê-los (estado social) como também pode ser usado para os manter pobres (não é preciso estado social, dos pobres trata a igreja).
Que o dinheiro move montanhas é certo. Daí a concluir que a pequena-burguesia, dominante em volume nos países ocidentais, mudaria os seus valores conforme se lhes despertasse para a realidade do sistema é uma conclusão no mínimo, generosa. Mas é nisso que acredita um herdeiro da moral cristã. A única "evolução" que foi feita no ocidente pelos novos moralistas é que agora já não precisamos de nos sentir culpados por querermos coisas. Agora basta atribuir a culpa àqueles que têm poder para as ter, mantendo-nos longe deles para não sermos contagiados com a sua "culpa"...
"O que é a moral judaica? O que é a moral cristã? É o acaso despojado da sua inocência; o infortúnio conspurcado com a noção de pecado; o bem-estar transformado em perigo, em tentação; a indisposição fisiológica envenenada com o verme da consciência."
"...é a invenção de uma forma de existência ainda mais irreal do que a determinada pela organização de uma Igreja. O cristianismo nega a Igreja."
Anticristo, Nietzsche
Nietzsche também diz que o Cristianismo é o passo lógico a seguir ao Judaísmo no caminho rumo à desvitalização, à anti-naturalidade e à cultura do pecado e redenção.
É levar a sublimação dos valores até ás últimas consequências.
A solução final de tal sublimação seria uma espécie de anarco-cristianismo com cristo esquecido. O desaparecimento total de todas as representações materiais da religião e a vitória total da conduta moral incorporada (talvez resultasse em algo de bom mas só se o mundo fosse habitado maioritariamente por clones do Tolstoi).
Reconhece-se este espírito agora com os movimentos anti-globalização, meros efeitos colaterais do capitalismo. O que interessa a estes neo-cristãos encapuçados é saber de quem é a "culpa", essa necessidade abraâmica. E a culpa está naquele concílio de Deuses pagãos infiés ao Deus-bem-liberdade. Quanto mais se abafa Deus (ou seja, a necessidade dele), mais ele se torna estúpido e descontextualizado. Deus anda agora perdido nas ruas a tentar perceber por que nome lhe chamam agora...ele suspeita que é dinheiro o seu novo nome, mas tem vergonha de admitir...é que se calhar sempre foi...
Mas também eu estarei a ser de certa forma ingénuo. Essa visão mecanicista com princípio activo não terá sido "inventada" com a descrição da Criação Bíblica. Tal como não acredito que esse Deus tenha criado o mundo, também não acredito que a visão dessa criação seja ela mesma, uma criação "pura" - não há criações "puras" - mas antes o resultado da ilusão activada pelo despertar de consciência humano. Antes uma adaptação da condição humana necessitada/viciada em explicar a realidade que não existe para ser explicada mas, quanto muito e talvez, compreendida, o que é completamente diferente.
Sunday, January 24, 2010
Vontade
Para Além do Bem e do Mal, Nietzsche
Sunday, November 8, 2009
A problemática da fé ou O acto de simplesmente dizer merda
Se existe X, então X deverá estar na sustentação de algo.
Um exemplo deste raciocínio é pensar: estou vivo, portanto devo viver - errado. O máximo que posso dizer é estou vivo, portanto algo aconteceu para que tal fosse possível. Depois se quero continuar a viver, essa vontade é um fenómeno em si que tem explicação no que o precede e não no que o procede. Eu não quero viver porque quero fazer algo com a minha vida, eu quero viver porque contenho algum tipo de informação biológica em mim que me faz ter medo de morrer. E se tenho medo de morrer isso não é mais do que um hábito adquirido por uma acumulação de informação genética que me faz reagir repelentemente para com situações que ameaçem a minha integridade física. Onde quero chegar é que os factos só são explicáveis pelos fenómenos que os precedem e não pelo seu aparente "sentido". É na crença do sentido da vida que reside esta doença de interpretar o sofrimento como um "aviso" e não apenas como uma manisfestação de um fenómeno resultante do confronto entre outros fenómenos. É óbvio que posso interpretar uma dor como um "aviso" mas por vezes não me parece muito claro para a maioria das pessoas que ela não tem essa "função". Ela não tem nenhuma função assim como nenhum facto tem nenhuma função, sentido ou significado. A única coisa que um facto pode ter é uma explicação dada por factos anteriores.
Como tal a felicidade é um daqueles conceitos que surge não como explicação de factos mas como objectivização e funcionalização dos mesmos. Tal e qual como o conceito de Deus judaico-cristão serve para projectar no futuro a explicação dos eventos presentes quando na verdade, é óbvio que essa explicação se encontra no passado. Consiste na transposição da experiência pessoal que um humano pode ter ao determinar um plano futuro - de aparente controlo da sua própria vida - para um plano geral de aparente controlo da realidade (da sociedade, para começar). A convicção de que um fenómeno vai acontecer tem um nome muito simples: fé. E a partir do momento em que se percebe que é dela que derivam os actos humanos fica simples perceber que não nos podemos livrar dela. Certos animais agem apenas por impulso. Outros agem por mistura de impulsos e certezas adquiridas ( a que chamo de fé) , como é o caso do ser humano. A única coisa que difere a crença de que Deus existe e a crença de que amanhã o Sol nascerá outra vez é o grau de fé.
Irei diferenciar 5 graus de fé:
Se me apoio na minha vontade para prever um evento preciso da máxima fé (5), se me apoio na minha intuição preciso de bastante fé (4), se me apoio em indução empírica e na minha experiência pessoal, preciso de alguma fé (3), se me apoio em dedução vinda de comprovação teórica (investigação científica) preciso de pouca fé (2), se me apoio em factos nunca disputados (irei morrer um dia, por ex) preciso de tão pouca fé que a considero desprezável(1). O que é comum a todos estes processos é que eu rigorosamente NÃO SEI o que se irá passar no futuro porque eu não posso lógicamente saber aquilo que não existe. Posso inferir. Mas é daqui que surge um risco. A observação sistemática de factos pode levar a confirmação sistemática de previsões e essa confirmação leva também a um crescimento de algum tipo de fé, um sentimento igual ao de qualquer fé, mas de papel diferente. Sinto agora a necessidade de distinguir duas categorias de fé para o efeito. Fé activa e fé passiva. Fé activa é aquela que dividi em 5 graus umas linhas atrás, é aquela que uso para levar a uma previsão ou decisão. Fé passiva é aquela eu ganho com a observação sistemática de factos. Agora definidas estas duas categorias parece-me que a fé activa na previsão de um evento com base em dados científicos é baixa mas a fé passiva que ganho na provável confirmação do evento é bastante alta pois quanto maior for a relação entre uma previsão e um acontecimento maior é a fé que ganho nos dados ou no processo que usei para essa previsão.
Onde é que surge o problema?
É que o conceito de fé que aqui abordo vem sob a forma de um sentimento. E embora eu possa distiguir teóricamente a fé passiva da fé activa isso retrata apenas o contexto em que a fé se manifesta mas que o sentimento dessa fé só por si não determina (como é óbvio, pois esse contexto é exterior ao sentimento). É por esta razão que eu identifico um processo: todas as transições de paradigmas são transições de fé. Mas a fé está cada vez mais forte à medida que o tempo passa porque a acumulamos inconscientemente. Acumulamos o sentimento (passivamente) mas já não precisamos de a utilizar tanto (activamente) e assim ela fica sem objecto, sem papel e nós tendemos a ter cada vez mais fé mas sem saber em quê. Assim cada vez mais cresce esta paixão sem objecto. Estes inúmeros sentimentos deslocados onde a fé é apenas mais um deles ou a soma de vários. Obtemos, através da ciência, formas de recorrer cada vez menos aos sentimentos para "saber" coisas e por isso deixamos estes sentimentos sem aplicação...cada vez mais precisamos de expressar estes sentimentos que se acumulam e cada vez menos precisamos deles para sobreviver (aparentemente).
Por um lado a fé serve para avançarmos, por outro lado serve para nos atrapalhar e nos dar mais vontade de avançar compulsiva e obsessivamente.
Por um lado é graças a ela que chegámos onde chegámos. Por outro lado é graças a ela que chegámos onde chegámos!!!!!
Conclusão: estamos fudidos.
Sunday, September 7, 2008
O Regresso está para breve...
-"Esta nova terapia traz esperanças a todos aqueles que morrem de cancro a cada ano."
-"Os sete artistas em campo compõem um trio de talento."
-"A vítima foi estrangulada a golpes de facão."
-"Um surdo-mudo foi morto por um mal-entendido."
-"Os nossos leitores nos desculparão por este erro indesculpável."
-"Há muitos redactores que, para quem veio do nada, são muito fiéis às suas origens."
-"No corredor do hospital psiquiátrico, os doentes corriam como loucos."
-"Ela contraiu a doença na época em que ainda estava viva."
-"A conferência sobre a prisão de ventre foi seguida de um farto almoço."
-"O acidente provocou uma forte comoção em toda a região, onde o veículo era bem conhecido."
-"O aumento do desemprgo foi de 0% em Novembro."
-"O cabrito-montês ficou morto na estrada durante alguns instantes."
-"As circunstancias da morte do chefe de iluminação permanecem rigorosamente obscuras."
-"O presidente de honra é um jovem septuagenário de 81 anos."
-"À chegada da polícia, o cadáver encontrava-se rigorosamente imóvel."
-"Parece que ela foi morta pelo seu assassino."
-"Ferido no joelho, ele perdeu a cabeça."
-"Os antigos prisioneiros terão a alegria de se reencontrar para lembrar os anos de sofrimento."
-"A polícia e a justiça são duas mãos do mesmo braço."
-"O acidente fez um total de um morto e três desaparecidos. Teme-se que não haja vítimas."
-"O acidente foi no tristemente célebre Rectângulo das Bermudas."
-"Este ano, as festas do 4 de Setembro coincidem exactamente com a data de 4 de Setembro, que é a data exacta, pois o 4 de Setembro é um domingo."
-"Quatro hectares de trigo foram queimados. A princípio trata-se de um incêndio."
-"O velho reformado, antes de apertar o pescoço da sua mulher até à morte, suicidou-se."
-"E agora que as cheias terminaram, o melhor a fazer é recuperar o que não se perdeu."
Friday, February 1, 2008
Sobre a Remodulação do Governo
E assim a populaça torna-se cúmplice de uma injustiça, em vez de cúmplice da provocação de um maior diálogo e obtenção de um compromisso entre objectivos e reivindicações populares que, neste caso, se deveriam cingir ao caso de Elvas e outros que fossem também surrealistas.
Não só chama estúpidos aos potenciais eleitores que o manterão no poder em 2009 como obtem o que de menos construtivo se poderia tirar das manifestações na rua-a cedência perante a pressão popular e também, perante a pressão dos dissidentes dentro do PS, o que resultou na facada nas costas de um ministro que determinou a política que irá ser seguida pelo governo na mesma...
Voltámos ao tempo do coliseu de Roma.Só faltava largar o Correia de Campos na rua para o povinho aplaudir enquanto 3 pit bulls se atiravam à carcaça do ex-ministro, cujo tinha levado um golpe antes de ser largado à sorte...
Pois é, a democracia é um preço demasiado alto.
Wednesday, January 30, 2008
Sobre a Revolução de Abril e a nova constituição que se avizinhava...
"- Liberdade, que estais no céu…
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pão de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.
- Liberdade, que estais na terra…
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.
Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
- Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome."
escrito em 1975
por Miguel Torga
Magistral, na minha opinião, a simplicidade com que aqui são expressas as subtilezas e as armadilhas que foram proporcionadas pela revolução.
Infelizmente, em 1976, os nossos queridos e cobardes PS e PSD(não vale a pena falar da CDU e do fungágá da esquerdalhada) brindaram-nos com uma constituição pseudo-comunista e completamente desconexa com a realidade e necessidades do país, à conta do ambiente revolucionário e do medo de levarem um tiro à saída do parlamento.E desde aì que patinamos em revisões e dúvidas semânticas sobre os valores essenciais a concretizar para o futuro do país.Ninguém quer ter coragem de ser claro.Haja esperança na oitava revisão...
Friday, January 18, 2008
Momento
Uma espécie de céu -------------------------------Uma espécie de céu
Um pedaço de mar --------------------------------Um pedaço de mar
Uma mão que deu---------------------------------Uma mão que doeu
Um dia a tirar-------------------------------------Um dia devagar
Um discurso perfeito------------------------------Um Domingo perfeito
Uma toalha no chão------------------------------- Uma toalha no chão
Um já está cansado--------------------------------Um caminho cansado
Um foge de avião----------------------------------Um traço de avião
Uma sombra se avizinha-------------------------- Uma sombra sozinha
Uma luz inquieta----------------------------------Uma luz inquieta
Um desvio na rua--------------------------------- Um desvio na rua
Uma voz de poeta--------------------------------- Uma voz de poeta
Uma ideia vazia----------------------------------- Uma garrafa vazia
Um partido apagado------------------------------ Um cinzeiro apagado
Um orçamento na esquina------------------------ Um hotel na esquina
Um sono acordado-------------------------------- Um sono acordado
Um constante adeus------------------------------ Um secreto adeus
Um café a ajudar---------------------------------- Um café a fechar
Um aviso na porta---------------------------------Um aviso na porta
Um cartaz no ar----------------------------------- Um bilhete no ar
Uma praça lotada----------------------------------Uma praça aberta
Uma manhã perdida-------------------------------Uma rua perdida
Uma noite esperada -------------------------------Uma noite encantada
Para sempre esquecida---------------------------- Para o resto da vida
(Refrão)
Pedes-me um voto-------------------------------- Pedes-me um momento
Agarras-te às palavras ----------------------------Agarras as palavras
Escondes-te no tempo----------------------------- Escondes-te no tempo
Porque o tempo tem asas-------------------------- Porque o tempo tem asas
Levas a cidade------------------------------------- Levas a cidade
Soltas as promessas--------------------------------Solta me o cabelo
Perdes-te connosco-------------------------------- Perdes-te comigo
Porque o mundo é o momento--------------------- Porque o mundo é o momento
(repete)
Uma estrada infinita -------------------------------Uma estrada infinita
Um anuncio [nada] discreto ------------------------Um anuncio discreto
Uma vida fechada----------------------------------Uma curva fechada
Um coração deserto--------------------------------Um poema deserto
Um olhar distante--------------------------------- Uma cidade distante
Um país saturado --------------------------------- Um vestido molhado
Um tratado bovino --------------------------------Uma chuva divina
Um desejo de salvá-lo -----------------------------Um desejo apertado
Uma promessa esquecida ------------------------- Uma noite esquecida
Uma comissão qualquer--------------------------- Uma praia qualquer
Um riso escondido--------------------------------- Um suspiro escondido
Numa pele de cordeiro----------------------------- Numa pele de mulher
Um encontro em segredo---------------------------Um encontro em segredo
Uma assembleia ancorada--------------------------Uma duna ancorada
Vários corpos unidos -------------------------------Dois corpos despidos
Apoiados no nada ----------------------------------Abraçados no nada
Uma estrela decadente ---------------------------- Uma estrela cadente
Um olhar que se afasta -----------------------------Um olhar que se afasta
Um intenção escondida-----------------------------Um choro escondido
Quando uma mentira não basta--------------------Quando um beijo não basta
Um semáforo aberto -------------------------------Um semáforo aberto
Um adeus para quem sente ------------------------Um adeus para sempre
Uma ferida que dói--------------------------------- Uma ferida que dói
Não agora, para sempre --------------------------- Não por fora, por dentro
Wednesday, January 16, 2008
Monday, January 14, 2008
O sarcasmo e o Taoísmo de Lin Yutang
"Além da nobre arte de conseguir fazer as coisas, existe a nobre arte de deixar as coisas por fazer. A sabedoria da vida consiste na eliminação do que não é essencial"
"É certo que os fumadores causam alguns incómodos aos não-fumadores, mas tal incómodo é físico, ao passo que o incômodo que os não-fumadores causam aos fumadores é espiritual"
"Entre todos os direitos da mulher, nenhum é maior que o de ser mãe"
"No Ocidente, pensa-se muito em sexo e pouco nas mulheres"
"Se consegues viver uma tarde absolutamente inútil, de maneira absolutamente inútil, então sabes viver"
"A paz e a força são duas mulheres ciumentas que recusam-se sempre a ficar na mesma casa"
"O erudito é como o corvo que alimenta os seus filhotes vomitando o que comeu. O pensador é como o bicho da seda, que não nos dá folhas de amoreira, mas seda"
"Todos nós temos a ideia pervertida de que o cérebro humano é um órgão para pensar. Nada está mais longe da verdade"
"O homem está por assim dizer ensanduichado entre o céu e a terra, entre realismo e idealismo, entre elevados pensamentos e baixas paixões. Esta condição de sanduíche é a verdadeira essência da humanidade"
"No Ocidente, os dementes são tantos que são postos em asilos.Na China são tão poucos que nós veneremo-los"
"Em vez de nos apoiarmos na visão bíblica de que fomos criados à imagem e semelhança de Deus, tevemos vindo a chegar à conclusão de que fomos criados à imagem e semelhança do macaco"
"Um homem que têm de estar pontualmente, num certo local, às 5 da tarde, tem a tarde inteira desde a 1 até às 5, arruinada desde logo"
"Quando um espelho conhece uma mulher feia, quando uma pedra preciosa é descoberta por um homem banal, quando uma espada perfeita se encontra nas mãos de um general medíocre...não há nada a fazer"
"O que é o patriotismo, senão o gosto por uma comida que se comeu em criança?"
"Onde há muitos polícias, não pode haver liberdade.Onde há muitos soldados, não pode haver paz.Onde há muitos advogados, não pode haver justiça"
"Quando pequenos homens começam a provocar grandes sombras, significa que o Sol se está a pôr"
"O bom viajante é aquele que vaga sem saber para onde está a ir"
"O homem superior ama a sua alma.O homem inferior ama a sua propriedade"
"O máximo de poder é a iniciação da decadência"
"Há duas maneiras de difundir a luz.Ser a lâmpada que a emite ou o espelho que a reflete"
"Um homem educado é aquele que tem os amores e os ódios juntos"
"Se não podes viver uma vida bela, deves sonhá-la"
"A beleza da vida humana está em que, ao rever as nossas resolucões no fim do ano, descobrimos que cumprimos um terço, deixámos outro por cumprir, e não nos conseguimos lembrar em que é consistia o último"
Sunday, January 13, 2008
Saturday, January 12, 2008
Sobre a Morte
A única solução que encontro é esperar que nestes pulsares do universo, aconteça nalgum deles o meu reencontro com tudo o que tinha vivido na vida anterior, pois só nascendo com mesmo código genético e tendo as mesmas memórias poderia encontrar aquilo a que chamei de "minha vida" e da qual preciso para poder definir aquilo a que chamo de "mim próprio".
Mas eu posso estar neste preciso momento a viver uma reencarnação.Mas que diferença me faz viver mais uma vida se a minha alma não traz consigo a lembrança da anterior?
E mesmo que a vida de um homem seja um sonho tido por outro.Quando um acorda, o outro morre.E assim sucessivamente.
Quer tudo acabe, quer volte a viver, todas estas minhas questões dão-se na minha cabeça e são assistidas pela minha consciência de existir.Consciência essa que não irá conhecer outra vida senão esta.E estará sempre condenada a esta ironia de não escapar à morte, pois está fechada na minha vida.
O que interessa é que mesmo que eu reencarne, isso não resolve a minha verdadeira morte, mesmo que ela se repita infinitamente...