Wednesday, April 14, 2010

Et voilá

Religion, n. A daughter of Hope and Fear, explaining to Ignorance the nature of the Unknowable.

Devil´s Dictionary, Ambrose Bierce

Tuesday, April 6, 2010

Nova fase

Assim como apreciar as raparigas na praia pode beneficiar de algum silêncio sobre o assunto ou da invenção de outros assuntos sobre a vida que encubram a indelicada constatação de que o sexo é tudo, também ler Nietzsche pode ser demasiado desmascarador da vida e, como tal, concluí que ele deve-se ler às escondidas e talvez seja boa ideia não revelar que se o lê, mantendo-o até afastado do quotidiano. Talvez não se se deva perder a máscara correspondente ás expectativas dos outros e deixar as nossas avaliações íntimas ao encargo do nosso subconsciente (ou pré-consciente na linguagem freudiana). Provavelmente este saberá melhor lidar com avaliações socialmente pouco "práticas" que a nossa consciência. Caso contrário, talvez nos arrisquemos a desvitalizar a nossa vida social, assim como a uma flor arrancada do solo que mostra a raiz que a natureza não nos prescrevia olhar.

Saturday, April 3, 2010

Mais um mito...

...Nietzsche não rejeita o iluminismo. Apenas lhe retira o carácter transcendente. A razão é humana e não universal. Ela não se refere ao mundo exterior mas ao mundo criado pela linguagem humana:

"A importância da linguagem para o desenvolvimento da cultura está em que nela o homem estabeleceu um mundo próprio ao lado do outro, um lugar que se considerou firme o bastante para, a partir dele, tirar dos eixos o mundo restante e se tornar seu senhor. Na medida em que por muito tempo acreditou nos conceitos e nomes das coisas como em aeternae veritates [verdades eternas], o homem adquiriu esse orgulho como que se erguendo acima do animal: pensou ter realmente na linguagem o conhecimento do mundo. O criador da linguagem não foi modesto a ponto de crer que dava às coisas apenas denominações, ele imaginou, isto sim, exprimir com as palavras o supremo saber sobre as coisas; de fato, a linguagem é a primeira etapa no esforço da ciência. Da crença na verdade encontrada , fluíram, aqui também, as mais poderosas fontes de energia. Muito depois – somente agora – os homens começam a ver que, em sua crença na linguagem, propagaram um erro monstruoso. Felizmente é tarde demais para que isso faça recuar o desenvolvimento da razão, que repousa nessa crença."

Humano, demasiado Humano

E ele não era um romântico subjectivista em relação à arte:

"[...] a improvisação artística encontra-se muito abaixo do pensamento artístico seleccionado com seriedade e empenho. Todos os grandes [artistas] foram grandes trabalhadores, incansáveis não apenas no inventar, mas também no rejeitar, eleger, remodelar e ordenar."

Humano, demasiado Humano

Nietzsche chega ao ponto de enfatizar a importância da razão na arte, de forma a que chegue aos interlocutores. Tudo ao contrário do que os atrasados mentais dos supostos seus seguidores pós-modernistas interpretam dele.

E por último:

Existe uma ideia falsa de que Nietzsche considera que o ser superior deve seguir os seus instintos sem complacência. Não passou pela cabeça de ninguém que o problema que ele coloca não é o da obediência aos desejos mas simplesmente, de se permitir que eles existam.

À pergunta "o que confere nobreza?", uma das respostas de Nietzsche é: "[...] não será obedecer às paixões: há paixões desprezíveis." Logo em seguida, diz ele que "[...] a paixão que se apodera do ser nobre é coisa que ele não se dá conta [...]."

Humano, demasiado Humano

Para que se entenda melhor, um excerto do mestre em teoria literária Vítor Henriques:

"Há, portanto, uma razão que ao mesmo tempo molda e entende a vida e desaparece perante o assalto das paixões sem se dar conta disso; é nesse sentido que entendemos a razão em Nietzsche como uma razão trágica, já que se impõe e se esvai, como se ela afirmasse e fosse negada ao mesmo tempo. Trágica, porque essa dubiedade é tão fatal como a dor é para a vida. A obstrução da dor é a obstrução da própria alegria, já que para Nietzsche quanto mais feliz é um homem, mas infeliz ele pode ser, pois mais susceptível às afectações do mundo. Para o filósofo, quanto maior o desprazer, maior foi o prazer. Assim sendo, da mesma maneira que alegria e dor são um e o mesmo, razão e desrazão se entrelaçam num mundo tragicamente concebido."

Friday, April 2, 2010

Mais um exemplo...

...de como vale a pena ler outras pessoas. Muitas delas entendem-nos melhor do que nós proprios e dizem numa frase aquilo que pensamos em milhares de ideias falhadas:

"The violence of Cioran's work, its verbosity and arrogance, results from a struggle with inevitable positivism.The use of aphorism is also borne of this. It demands our opposition. The blank following the sentences rises up before us. Our exasperation leaves the same silent space hovering there. This is the placeless heaven or hell Cioran is always returning us to. It is pointless to oppose or argue - or explain. One can scan the biographical parabola that gives shape to a life, thereby explaining it and the work, but something is left behind; this place he takes us to. The facts of a life help inasmuch as noise masks silence. But something is left behind. Generally, it seems students study, reviewers review, writers write and readers read in the hope of avoiding this. It's what the people want, after all."