Saturday, March 31, 2007

Os meus medos.....

Espectadores.... Somos todos espectadores da história que se faz diante dos nossos olhos. Mas por muito que me esforçe não consigo parar de ter a impressão que conheço este argumento. Os actores não reconheço, mas aquilo que eles dizem é me estranhamente familiar. Há já algum tempo que reparo em sinais, em pequenas manifestações, descobertas, decepções... mas nada de importante, de relevante, de assustador. Aquilo que assusta é a suspeita, o "suspense", a hipótese provável de ser mais uma matiné da mesma história, repetida ciclicamente desde o começo do conceito de sociedade. A cada sinal, mais um ponto em comum, nada que cause terror.
Mas a hipótese de se virem a repetir os tempos de dificuldade, de injustiça, terror.... trazem esse mal-estar.
Um primeiro sinal, á coisa de 1 ano e meio, um suposto crime organizado, perpretado por minorias étnicas numa praia de moda. Coisa de escândalo, de nome mediático, "arrastão", mas a uma escala diferente, uma ilusão. Quem poderia iludir assim a opinião pública? mas mais importante do que quem, porquê? Se formos optimistas... um grupo isolado, uma percentagem pequena, ou então... um movimento em recrutamento...
Imediatamente surge uma face pública do velho vilão das histórias passadas, para manifestar-se no Marquês de Pombal contra os "diferentes"...
Estou a ficar farto deste filme, mas não consigo parar a cassete. As pessoa vêem aquilo que têm á frente, e não tentam aprender com as histórias que já conhecemos.... Somos perfeitos? Nem pensar nisso. Estamos bem? Podíamos estar muito melhor. É inútil trabalhar para isso? Não!
O problema é este nervoso miudinho... é esta hipótese. Poderíamos correr e fugir para onde quisessemos mas ela estaria sempre lá... A opinião pública a mudar, as pessoas a cederem à virtual maioria.
A pensarem? Sim, mas não sem antes cederem à tentação daquele sentimento de pertencerem aos "bons", e aceitarem as condições de adesão. Pensando naquilo que vêem e experimentam, e esquecendo a história que nos parece tão familiar. Não olhando para a justificação.
Por fim acalma-mo-nos, e pensamos, que disparate... é um punhado de rapazes que não pensaram bem no que disseram. E fechamos os olhos com força e fingimos que nunca se passou..... até voltar a acontecer.

Penso que está a acontecer....

Monday, March 26, 2007

Jesus Cristo não era masoquista

Para adicionar às citações de Siddharta, aqui ponho algumas citações atribuídas a Jesus Cristo:

"Com a Verdade vós os vencereis."

"Não julgueis para não serdes julgados. Pois com o julgamento com que julgais sereis julgados, e com a medida com que medis sereis medidos."

"Todos os que pegam a espada pela espada perecerão."


Nas duas primeiras citações vemos dois princípios que foram completamente seguidos ao contrário, pois a igreja ao usar o nome de Cristo apenas se concentrou em pôr toda a gente a decorar salmos como se fossem palavras mágico-catárticas, não se preocupando em ajudar as pessoas a não entrar num estado de infantilidade encravada que de forma alguma procura a Verdade, que é referida na primeira citação.Estou francamente de acordo como a lógica contida nesta frase, pois nos dias de hoje sabe-se o que está a vencer: a Ciência, que mostrou ser uma honesta e exigente busca da Verdade.
Já na segunda citação, ainda bem que que ninguém se esqueceu de ler esta passagem na bíblia, pois se alguém se tivesse esquecido de ler, não sei como teria sido a Santa Inquisição e as formas de educação que se baseavam em formas de julgamento e condenação por acusações morais.
O "Juízo Final" é apenas a ideia de que só quando todas as nossas acções estiverem somadas, se poderá tirar conclusões.Até lá mais vale é viver em vez de julgar, apenas.
Na terceira citação, não me parece estar lá escrito para se promover estupidamente a paz ao ponto de perdoar tudo e tentar alcançar todos os abjectivos por via de rezas e consolos.O que eu leio ali é "quem vai à guerra, dá e leva".
De facto, basta procurar outras passagens e ver que jesus cristo não promovia inércia, conformismo e desejos de paz expressos em lamúrias e cânticos.Ele queria acção:

“Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas a espada. Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa.”

Isto é uma clara proposta de desapego às verdades instituídas.Uma proposta de recusar os vícios da sociedade e não aceitar a realidade como ela nos é apresentada, mas sim lutar por uma outra.Lutar por amor:

"Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos."

pelos amigos, pelos que não são do mesmo sangue ou socialmente vinculados.

A ideia de dar "a outra face" parece-me a mim aplicar-se a situações em que mais vale ser superior a conflitos inúteis e esperar que o outro se satisfaça e vá à sua vida(alguma ponta de cinismo nesta interpretação).

Para concluir e em comparação com Siddharta, julgo que o Buda era pacifista, mas Jesus Cristo não era e essa será a diferença essencial entre eles, para mim.Enquanto que o Buda busca a felicidade por via da meditação e reflexão, Jesus Cristo é mais enérgico e revoltado (tal não terá sido o arraial de pancada que deu aos vendedores de ídolos no templo, acordou mal disposto...) para com os vícios e injustiças da sociedade.Ele bem pede para olharem "os lírios do campo" e ver na natureza tudo aquilo que precisamos e que nos conforta, em vez de ficarmos presos à artificialidade da sociedade que nos põe todos uns contra os outros.
Ao se olhar para a instituição da Igreja Católica e se verificar a sua necessidade de controlar as pessoas, concluímos logo que um batalhador, impulsivo, por vezes incoerente,quase anarquista, militante da vida e do amor pela natureza e pelas pessoas e sem qualquer projecto de sistema político para monopolizar a vida de todos, nunca poderia ser uma boa referência.Melhor seria um inocente e masoquista impulsionador da obediência e da ordem e que "voluntariamente" deu a vida por todos nós para nos mostrar o quanto
de nós gostava...
Para que todos tivéssemos medo de tentar o mesmo que ele.Todos tivéssemos medo de acreditar que ele não queria ser crucificado, queria viver e ser feliz, sendo pura e simplesmente assassinado por pôr em risco a ordem política.
E assim foram, ao longo da História, as repetições de crucificações a quem quer que procurasse a verdade ou pensar diferentemente do instituido.Para que a igreja deixasse claro que esta seria a consequência para todos, portanto seria melhor que esperássemos eternamente o salvador...mas se Ele aparecer mesmo...salvem-se os padres!!

Friday, March 23, 2007

Citações do Buda Siddharta Gautama

Ouvi dizer que o Budismo está muito na moda.Depois de ver estas citações, não parece:


"Se o desejo, que se aloja na raiz de toda a paixão humana, puder ser removido, aí então, morrerá esta paixão e desaparecerá, consequentemente, todo o sofrimento humano."

"O ódio nunca desaparece, enquanto pensamentos de mágoas forem alimentados na mente. Ele desaparece, assim que esses pensamentos de mágoa forem esquecidos."

"Tudo o que nasceu vai morrer, tudo o que foi reunido será espalhado, tudo o que foi acumulado terá fim, tudo o que foi construído será derrubado, e o que esteve nas alturas será rebaixado".

"Não acreditem em nada só porque lhes foi dito. Não acreditem na tradição apenas porque foi passada de geração em geração. Não acreditem em nada só porque está escrito nos seus livros sagrados. Não acreditem em nada apenas por respeito à autoridade de seus mestres. Mas em qualquer coisa que, depois do devido exame e análise, vocês vejam que leva ao bem, ao benefício e ao bem-estar de todos os seres."

"O homem que busca a fama, a riqueza e casos amorosos é como uma criança que lambe o mel na lâmina de uma faca..."

"Um homem será tolo se alimentar desejos pelos privilégios, promoção, lucros ou pela honra, pois tais desejos nunca trazem felicidade, pelo contrário, apenas trazem sofrimentos."

"Não vivas no passado, não sonhes com o futuro, concentra a mente no momento presente."

"Viver apenas um dia e ouvir um bom ensinamento é melhor do que viver um século sem conhecer tal ensinamento."

"O leite fresco demora em coalhar; assim, os maus atos nem sempre trazem resultados imediatos. Esses atos são como brasas ocultas nas cinzas e que, latentes, continuam a arder até causar grandes labaredas."

"A nossa existência é transitória como as nuvens de outono. Observar o nascimento e a morte dos seres é como olhar os momentos da dança. A duração da vida é como o brilho de um relâmpago no céu, tal como uma torrente que se precipita montanha abaixo."

"Dominar-se a si próprio é uma vitória maior do que vencer a milhares numa batalha."

"Não lastimes aos outros o que te causa dor somente a ti."

"Começamos a morrer no momento em que nascemos."

"As boas e más acções que um homem pratica, persegui-lo-ão para sempre como sombras."


Embora eu não seja budista e não seja adepto de outras facetas dessa religião para além das mostradas nestas citações, como a crença no estado iluminado ou na vida eterna resultante de uma prática do bem, penso que se analisarmos estas frases verificamos que o que se passa nos dias de hoje não é uma real extinção do espírito religioso, mas sim uma nova religião chamada capitalismo, egoísmo ou futilismo em que os valores são justamente os opostos aos anteriores mas continuam a manter a caracteristica das religiões anteriores que consistem em prender as pessoas em vez de as libertar.
Agora esta nova religião é apenas uma inversão dessa prisão.Antes prendia-se o indivíduo à preocupação com os outros e com o que ele podia dar.Agora prende-se o indivíduo à preocupação consigo próprio e com aquilo que ele pode ganhar.

Não sou religioso mas mesmo assim parece-me que, devido à fé ser algo duro de se manter, a perda do espírito religioso numa pessoa ou da sua crença em algo muitas vezes não provém de uma iluminação vitoriosa mas apenas de uma desistência...

Mas já este Buda dizia:

"É melhor acender uma vela do que amaldiçoar a escuridão."

Portanto aqui fica a hipótese de que aquilo que está por trás de cada religião(que acabou por ser usada para o controlo de massas) e lhe deu origem pode conter grandes e importantes verdades, tão difíceis de digerir que tiveram de ser adaptadas ao longo da História.

Monday, March 12, 2007

Medo da superação=Medo do Futuro=Medo da Solidão

Ao passear por vários blogs que não interessa nomear, verifiquei um padrão interessante na forma de expressão e debate de ideias, presente em todos os blogs.Essas ideias consistiam na identificação de falhas e problemas na sociedade e política ou meramente comentários efémeros, traduzíveis por "boa tarde.como tem passado?".Mas no caso dos posts críticos, nenhum deles apontava para uma solução.Não era possível vislumbrar uma luz.Só restava ao leitor(eu, neste caso) três hipóteses: 1-afundar-se nas suas próprias lágrimas de depressão, 2-nadar na exibição da individualidade do escritor ou 3-subir ao barco e ir embora.

Em todos eles existia apenas um desabafo muito elaborado, mas nem por isso, claro em ordem de ideias.

Não querendo assumir-me mais esclarecido(pois também passo pelos mesmos erros) nem armar-me em psicólogo social, avancei contudo, com uma possível interpretação psicanalítica: a todos os bloguistas que me refiro, parecia ser comum um "medo da mudança" efectiva e não apenas, aparente. Como se tivessem criado um apego aos problemas que mencionavam (ou mesmo dependência afectiva)e ao falar deles, não procurassem, de facto, saídas mas apenas, corredores circulares onde pudessem vaguear e encontrar de novo os seus velhos amigos com os quais se poderão embrulhar noutros termos que foram aprendendo.
Corredores esses, onde certas pessoas poderão, sempre que quiserem, viajar(a bordo de tàxis de lisboa, onde o condutor informa que "isto está tudo lixado") e cruzar-se novamente com as velhas questões por resolver que, apesar de tudo,se tornaram parte da sua vida e sem as quais, sentem um vazio, ficando no ar a suspeita que depois de resolvidas, nada mais haveria para divagar e isso não pode acontecer.
O melhor exemplo deste processo é o descrito no post "a vítima habituada" onde "hàbito" é sem dúvida, a palavra chave.Parece haver um certo prazer escondido em manter questões por resolver, para poder continuar à deriva nelas, demonstrando-se isto, por exemplo, em alguém que diz:"os políticos são todos uns corruptos" e não pensa numa forma de superar esse facto ou sequer, mais maquiavelicamente, usar essa tendência em seu favor.

Penso que esta maneira de ser deve-se a um medo que, embora encoberto, funciona.Eu posso até ser uma vítima dele, sem saber...esse medo de que falo é o de nos imaginarmos num mundo diferente do nosso.Diferente daquele que aconteceu.O medo de um mundo com o qual ainda não estabelecemos nenhuma ligação afectiva e do qual ainda não temos memórias para nos apegarmos. Medo de um mundo que perdesse muita coisa do mal que nos unia e nos obrigava a confortarmo-nos diáriamente em desabafos dos quais começámos a gostar e a não nos imaginarmos sem eles.Um medo que reprime o desejo de liberdade do passado, pois o futuro, estando sempre em construção, não existe e portanto, nada nem ninguém nos garante que, arranjando uma forma mais eficiente de ultrapassar problemas, não se iria ficar sem assuntos que nos ligassem.Arriscamo-nos a querer apenas orientarmo-nos e definir direcções nas ruas e nos mapas e nunca, na nossa mente.

É, realmente, preciso força e coragem para nos abtstrairmos do mundo em que vivemos(objectivamente e não substituindo por fantasias) e tentar imaginar uma saída real dos problemas actuais, fìsicos e metafìsicos, sabendo que com isso poderemos encontrar uma despedida amargurada da realidade na qual a nossa vida se construiu e deu significado aos nossos sentimentos.
É preciso enfrentar a solidão e o medo de cortar ligações devido a ter encontrado um caminho que não vai de encontro aos hábitos e apegos das relações familiares e sociais, pois não devemos achar que o verdadeiro amor ou amizade se esvai por alterarmos as condições e circunstâncias da nossa vida.

Sunday, March 4, 2007

Sexo e Violência

Todos nós somos violentos, uns mais, outros menos.Todos desejamos sexo, uns mais, outros menos.Todos ansiamos por conflito e competição, uns mais, outros menos.Depois, há também a medida em que o aceitamos ou não.
Existem algumas conversas de protocolo em que se usa a premissa "hojes os filmes usam muito o sexo e a violência" admitindo à partida que isso é mau e não se questionando mais acerca desse assunto.Mas na verdade, acho que é um erro considerar que tal premissa acusa algum perigo real, necessário e inquestionável à mente das pessoas, porque não foi preciso haver filmes de guerra ou filmes pornográficos para que na História se cometessem atrocidadades e orgias.Muitas vezes, pelo contrário, a repressão de certos assuntos, como a necessidade de sexo e de violência, provocou catástrofes,pois levou a que certas pessoas,ao se sentirem atingidas por certos impulsos(que a sua educação e consciência não aprovavam) entrassem em pânico e não soubessem gerir as suas emoções.Dizer que o ser humano não tem, naturalmente, impulsos violentos é retirar mais de metade da História conhecida da Humanidade e, simultaneamente, acreditar no pai natal.
Acho que se deve evitar partir para a discussão, tendo já uma crença que o ser humano é bom ou a desconfiança que é mau.Acho que é mais rentável tentar, pura e simplesmente, descobrir como ele é e aceitá-lo, para melhor gerir e lidar com isso.
Quero dizer com isto que todos precisamos de expandir o corpo e a mente.Não sendo isso bom nem mau, mas sim uma necessidade apenas(da qual se pode ou não, obter prazer), assim como ir à casa-de-banho evacuar não é um assunto que se discuta muito em termos de ser bom ou mau, mas apenas em termos de precisar de ser feito.
Depois, existem aplicações que se podem fazer dessa necessidade de expansão, com as quais os pais de cada um lidam.A meu ver, existem duas formas de abordagem desse assunto:

1-tentar conhecer o seu filho e as suas vontades e não o forçar a mudar
2-definir à partida o que é melhor para ele e ganhar esperanças em relação a isso

Obviamente, defendo a primeira, com os devidos limites, pois há coisas que os pais têm de definir para os filhos sem lhes perguntar e também haverá sempre coisas nesses filhos que os pais não devem sentir-se obrigados a aceitar.
Acho que o mais importante é não construir um mundo de falsas esperanças e objectivos deturpados e anti-naturais na cabeça das crianças, para mais tarde essas mesmas, ao crescerem e se começarem a desiludir com o fim dos contos-de-fadas, não reajam por ressabiamento, ficando ás vezes, com mais necessidade de sexo e violência do que naturalmente, já tinham.