Friday, February 23, 2007

O Sentido de Estética

Desde hà muito que o ser humano se vê assaltado por percepções que não sabe explicar ou ideias que não sabe pôr em prática, pelo que sentiu a necessidade de fazer evoluir as suas formas de comunicação, algumas com o objectivo de se fazer entender, outras com o objectivo de se exprimir, apenas.Por vezes observava a natureza, outras era ele a criar figuras, imagens, movimentos e sons para transmitir mensagens ou sensações.
Mas a todas estas formas de expressão era comum algum senso natural, uma espécie de conhecimento intrínseco das relações matemáticas aproximadas da natureza e das suas propriedades, ainda que sob a forma de instinto, de um sentido:o sentido de estética.
Parece-me que foi com o passar do tempo que o ser humano começou a querer compreender essas suas iniciativas e sistematizá-las de modo a ir criando uma definição de Arte.Essa preocupação poderá ter apenas contribuído para se estabelecerem regras de elaboração de obras de arte e determinar as suas limitações, podendo assim qualquer artista aprender a vender o seu "peixe", visto que a Arte acabou por se tornar num negócio.
Mesmo com este uso que se fez da criatividade humana e com a racionalização e sistematização pelo qual esse conceito passou nos últimos milhares de anos, o sentido natural de estética continuava presente no ser humano.A meu ver isso verifica-se no tempo dos compositores mozart e beethoven, que não eram artistas incompreendidos, apesar de muitos escritores insistirem nisso para dramatizarem as suas vidas.Beethoven não era aceite apenas por alguns intelectuais e músicos da época, porque o "povo" alemão, esse, idolatrava-o.É por factos como este que me constrange que a Arte se tenha tornado nos dias de hoje uma coisa de "elites", pois ela já foi tudo menos isso.
De qualquer maneira, é preciso aceitar o facto que esse senso de estética foi sendo condicionado, de alguma forma, ao longo da civilização humana e criou-se alguma dependência das formas de fabrico que se desenvolveram para criar Arte.No início do século XX, começou a haver uma necessidade de romper com esses condicionamentos da história da Arte e criar algo independente e mais despreocupado de sentido.

Onde é que surge o problema?

É que ao querer libertar a Arte de sentido, para que não houvesse condicionamentos, isso criou outro condicionamento.Ou seja, ao se quererem livrar da história, livraram-se de critérios de avaliação, pois o sentido de estética já estava habituado aos critérios anteriores.Por muito boas intenções que tivessem, foram abertas portas para qualquer um se chamar artista e ganhar por vezes fortunas graça a isso.A Arte em si perdeu interesse e credibilidade, mas em compensação, move mais dinheiro do que alguma vez moveu na história.
Alguma arte moderna (influências pop-art, dadaísmo...), que ninguém tem coragem de dizer que é uma fraude e o melhor exemplo de oportunismo comercial e demagogia em volta da liberdade que é possível conceber, parece um movimento que se justifica no hipotético diálogo:

-acabei a minha obra
-mas isso é uma torneira.porque é que fizeste uma torneira?
-porque posso

Como se antes fosse perigoso agir assim e fosse uma grande descoberta, a ideia de que se eu disser aquilo que quiser e criar aquilo que me apetecer não me cai um raio em cima.Como se fossemos umas crianças, afastadas do mundo real, ainda a testar a paciência dos pais.
Ou como se vivessemos num mundo de despojos de guerra e experiências adolescentes.

Perderam-se os argumentos e as bases,
associadas ao negócio da Arte (tendo sido a sua componente de negócio que mais tinha monopolizado o seu desenvolvimento) pois enquanto que desde os egípcios que se foram mudando a função e as regras do "jogo" de acordo com as circunstancias civilizacionais, agora mudam-se por mudar...
O sentido de estética ficou deturpado(veja-se o exemplo das modelos anoréticas ou as raparigas que vão com a banha de fora das calças minúsculas, de certos centros comerciais, de certos artistas musicais, nunca na história se criaram coisas tão inestéticas...) e quando alguém é confrontado com um objecto, imagem ou som que não consegue interpretar racionalmente, ou relacionar com outros exemplos, ao tentar recorrer ao seu sentido de estética, tem dificuldade em se orientar, pois este sentido já foi desorientado, ironicamente, pelos "artistas" e pelo negócio da Arte.

Estética-aisthésis(do grego): percepção, sensação

Tuesday, February 13, 2007

Vitória Amarga

Foi com desapontamento que vi o senhor primeiro-ministro dizer "os portugueses expressaram a sua opinião, agora devo cumprir com a minha palavra".Não que não tenha ficado satisfeito com o resultado, pois a opção que defendia foi a mais votada.
Mas daí a admitir que se diga que o aborto deixa de ser crime até às 10 semanas "por que os portugueses expressaram a sua opinião" não me cabe na cabeça nem no dia mais hipócrita da minha vida.Se o referendo não é vinculativo, acabou-se.Não se fala dele como se fosse.É gozar com a cara de quem se absteve com objectivo de reprovar a pergunta.
Sócrates foi desonesto(não o digo de animo leve, pois tenho-lhe em grande consideração) e demagogo(coisa que, apesar de tudo, já é mais comum no seu discurso) ao não explicar as coisas de outra forma, mais correcta, e limitar-se a avançar com a sua decisão usando um argumento que demonstrou que, para ele, neste caso, os fins justificaram os meios.E o referendo foi uma aposta estratégica e ao mesmo tempo, mais um isco para desviar a atenção da pesca lusa e ficar o país a divagar sobre assuntos sem se saber exactamente qual o seu voto na matéria e criando uma espécie de batalha metafísica entre fetos e mulheres pelos seus direitos...quando no fim, tanto fez...
Não me contento com esta vitória e muito menos não irei cometer a obscena asneira de festejar com champanhe, como aconteceu nas sedes das campanhas, que num assunto desta natureza é no mínimo, falta de gosto...