Monday, March 26, 2007

Jesus Cristo não era masoquista

Para adicionar às citações de Siddharta, aqui ponho algumas citações atribuídas a Jesus Cristo:

"Com a Verdade vós os vencereis."

"Não julgueis para não serdes julgados. Pois com o julgamento com que julgais sereis julgados, e com a medida com que medis sereis medidos."

"Todos os que pegam a espada pela espada perecerão."


Nas duas primeiras citações vemos dois princípios que foram completamente seguidos ao contrário, pois a igreja ao usar o nome de Cristo apenas se concentrou em pôr toda a gente a decorar salmos como se fossem palavras mágico-catárticas, não se preocupando em ajudar as pessoas a não entrar num estado de infantilidade encravada que de forma alguma procura a Verdade, que é referida na primeira citação.Estou francamente de acordo como a lógica contida nesta frase, pois nos dias de hoje sabe-se o que está a vencer: a Ciência, que mostrou ser uma honesta e exigente busca da Verdade.
Já na segunda citação, ainda bem que que ninguém se esqueceu de ler esta passagem na bíblia, pois se alguém se tivesse esquecido de ler, não sei como teria sido a Santa Inquisição e as formas de educação que se baseavam em formas de julgamento e condenação por acusações morais.
O "Juízo Final" é apenas a ideia de que só quando todas as nossas acções estiverem somadas, se poderá tirar conclusões.Até lá mais vale é viver em vez de julgar, apenas.
Na terceira citação, não me parece estar lá escrito para se promover estupidamente a paz ao ponto de perdoar tudo e tentar alcançar todos os abjectivos por via de rezas e consolos.O que eu leio ali é "quem vai à guerra, dá e leva".
De facto, basta procurar outras passagens e ver que jesus cristo não promovia inércia, conformismo e desejos de paz expressos em lamúrias e cânticos.Ele queria acção:

“Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas a espada. Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa.”

Isto é uma clara proposta de desapego às verdades instituídas.Uma proposta de recusar os vícios da sociedade e não aceitar a realidade como ela nos é apresentada, mas sim lutar por uma outra.Lutar por amor:

"Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos."

pelos amigos, pelos que não são do mesmo sangue ou socialmente vinculados.

A ideia de dar "a outra face" parece-me a mim aplicar-se a situações em que mais vale ser superior a conflitos inúteis e esperar que o outro se satisfaça e vá à sua vida(alguma ponta de cinismo nesta interpretação).

Para concluir e em comparação com Siddharta, julgo que o Buda era pacifista, mas Jesus Cristo não era e essa será a diferença essencial entre eles, para mim.Enquanto que o Buda busca a felicidade por via da meditação e reflexão, Jesus Cristo é mais enérgico e revoltado (tal não terá sido o arraial de pancada que deu aos vendedores de ídolos no templo, acordou mal disposto...) para com os vícios e injustiças da sociedade.Ele bem pede para olharem "os lírios do campo" e ver na natureza tudo aquilo que precisamos e que nos conforta, em vez de ficarmos presos à artificialidade da sociedade que nos põe todos uns contra os outros.
Ao se olhar para a instituição da Igreja Católica e se verificar a sua necessidade de controlar as pessoas, concluímos logo que um batalhador, impulsivo, por vezes incoerente,quase anarquista, militante da vida e do amor pela natureza e pelas pessoas e sem qualquer projecto de sistema político para monopolizar a vida de todos, nunca poderia ser uma boa referência.Melhor seria um inocente e masoquista impulsionador da obediência e da ordem e que "voluntariamente" deu a vida por todos nós para nos mostrar o quanto
de nós gostava...
Para que todos tivéssemos medo de tentar o mesmo que ele.Todos tivéssemos medo de acreditar que ele não queria ser crucificado, queria viver e ser feliz, sendo pura e simplesmente assassinado por pôr em risco a ordem política.
E assim foram, ao longo da História, as repetições de crucificações a quem quer que procurasse a verdade ou pensar diferentemente do instituido.Para que a igreja deixasse claro que esta seria a consequência para todos, portanto seria melhor que esperássemos eternamente o salvador...mas se Ele aparecer mesmo...salvem-se os padres!!

4 comments:

Anonymous said...

Não podes responsabilizar as pessoas pelos erros que uma instituição cometeu ao longo dos séculos. Quem faz a religião são as pessoas não as instituições assim como o estado não é o governo, somos nós.
Até porque existem novas correntes dentro da Igreja com um discurso bastante diferente do que a maioria das pessoas recorda. E só não são mais significativas porque as pessoas ainda não se habituaram a pensar na religião, a maioria segue uma tradição e não uma religião.
Quanto à opinião que tens de Jesus Cristo, devo dizer que apesar de achar que ele era um agitador, um revolucionário, mas não penso que ele não seja um pacifista. Ele tentava cativar as pessoas pela palavra, significando isto que em principio ele queria por as pessoas a pensar. Não acho que ele apoiasse o uso de violência para reunir o seu "rebanho", para atrair mais discipulos. Não há dúvida que era muito mais apaixonado do que Buda e por isso talvez, a sua história tenha atraido tantos seguidores. Acho que ambos procuravam apenas uma sociedade mais desprendida e mais aberta a ela própria, cada um há sua maneira mas de forma muito semelhante. Há quem diga até que Jesus terá feito uma viagem até ao oriente, onde terá conhecido tais filosofias milenares.
Acho que estes homens podem não ser divinos como são aclamados, penso que nem eles se achavam como tal, mas a sua mensagem e o seu contributo para o mundo é invejável tendo em conta que já há tantos milénios atrás conseguiram identificar os principais problemas da sociedade humana, que até hoje se matém diga -se de passagem

garibaldov said...

Gostava que me dissesses onde é que eu responsabilizo "as pessoas" seja quais forem as que te referese não os "erros que uma instituição cometeu" pois parece que eu digo justamente o contrário.

Quanto ao pacifismo, consiste em tentar obter paz através de acções pacíficas e também "pacifistas", ou seja, pró-paz, dando a essa componente pacífica mais importância do que aos outros parâmetros.

Nesse sentido, jesus cristo não era pacifista.

“Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas a espada..."JC

E acho absurdo considerar que não ser pacifista é apoiar o uso de violência, como dás a entender:

"Não acho que ele apoiasse o uso de violência para reunir o seu "rebanho", para atrair mais discipulos."MJ

Anonymous said...

Afinal o problema é uma questão de definição. Peço desculpa quanto à questão do pacifismo não estava a perceber bem o que querias dizer.

Quanto ao outro ponto tem a ver com a definição que muitos católicos fazem da sua religião, inclusivé eu própria. Penso, tal como disse no post, a igreja são as pessoas e não a instituição e portanto acho que quando se fala no assunto é importante fazer uma clara distinção que não fizeste.

Finalmente gostava que não encarasses os comentários aos teus posts como tentativas de boicote, não são ataques pessoais nem tentativas para mostrar que o que tu dizes não faz sentido, são apenas opiniões não são ataques.

garibaldov said...

Certo.Talvez a forma como respondi desse a entender que me senti atacado.

Simplesmente acho que estamos de acordo no essencial, daí achar que devia contestar a forma como te exprimiste apenas por achar que havia falhas de comunicação e não desacordos(o que pode ser muito frustrante), uma vez que também eu acho que uma religião deve ser representada por "pessoas" e respeitando a individualidade de cada uma e as suas interpretações.Facto é que a instituição Igreja Católica não contribui no geral, para a valorização do indivíduo e do seu discernimento próprio, pois não está, muitas vez, nos seus interesses.
Eu respeito as pessoas.O que não respeito é a forma como algumas se submetem ao controlo da igreja que muitas vezes não defende o interesse dos vários católicos, mas sim, a supremacia de uns poucos.