Thursday, January 18, 2007

Iluminismo e Anarquia

A questão de como atingir a liberdade é também subjectiva. Ainda para mais, se falarmos dela isoladamente, fica outra questão por resolver: "Liberdade em relação a quê? livre do quê?a que é que supostamente estamos presos? aos outros? aos sentimentos?ou á consciência ? á necessidade? ao medo? á natureza? e se estivermos presos a tudo isto? quereremos livrar-nos de todas estas coisas? Afinal... Quereremos ser livres? Se não definirmos claramente o que é, como poderemos saber se o queremos?
Para muitos é um sentimento. Talvez seja. Mas será como a felicidade era para alguns? Que não se procura? Não. Neste caso já não acho. Acho que devemos tentar identificar o que nos está a fazer sentir presos e enfrentar esse problema.
Mais uma vez, aquilo que provoca o sentimento de prisão pode variar de acordo com a pessoa.E deparamo-nos com uma possível razão de felicidade (na continuação do post anterior) que é livrarmo-nos de alguma coisa ou situação de que não gostamos.
Mas no meio deste caos de sentimentos, vontades de liberdade e noções diferentes da vida que o mundo seria se ninguém se controlasse nem ligasse ao resto do mundo, é preciso haver referências de bom senso e estruturas universais de pensamento e comunicação. Aí entram, ao longo da História, as escolas, as religiões e as doutrinas que visam preparar as pessoas para viverem umas com as outras e se aturarem.

Mas um grande problema que surge é que as pessoas, ao aceitarem estes ensinamentos, estão a receber um obstáculo á sua potencial liberdade, pois estão a receber pontos de partida que não foram eles que escolheram.Esta questão, realmente não tem solução, pois ninguém consegue partir do nada, excepto alguns génios que não devem servir de exemplo.
A única forma de amenizar esta situação é concentrar os esforços de quem ensina na cultura da verdade ou do mais próximo da verdade, que é a forma mais libertadora de ensinar.Esquecer os dogmas e os provérbios e concentrarmo-nos na propagação do conhecimento como superação de outras vias de abordagem da vida que existem, pois o conhecimento (certo, errado ou em evolução) igual para todos é a única forma de fazer conciliar a justiça e igualdade de oportunidades com a liberdade de escolha.
O gosto por conhecer, por compreender teorias, indepentemente de serem o espelho perfeito da realidade ou ser possível fazer melhor.Dar a toda a gente a possibilidade de poder pensar sobre os assuntos e proferir a opiniões com conhecimento de causa.A maior hipocrisia humanista que existe são essas escolas conceituadas onde, de facto, só entra quem tem dinheiro, influência ou currículo.O conhecimento é para todos.Não é de elites.Nem sequer para os mais inteligentes(que é um conceito que alguns acreditam demonstrar-se nas boas notas).
Aparentemente, seria incómodo para alguém que um puto de favela discutisse física atómica ou filosofia no meio da rua.Que nas escolas secundários se fornecesse ensinamentos sólidos (de forma cativante em vez de debitando) sobre o funcionamento da natureza e que o conhecimento andasse à solta na rua à disposição de muita gente...

Recuando um pouco no tempo, houve um movimento nos séc xviii-xix chamado Iluminismo que consistia em promover os valores da razão e da ciência no sentido de iluminar as pessoas, acreditando que isso as faria mais felizes.Embora tenha havido grande aderência a este movimento por parte de ilustres personagens, houve certas reacções
como o movimento a que se veio chamar de Romantismo, que tinha algumas vertentes contrárias(pois não se pretendia asolutamente contrária, mas também, em parte, complementar)e que tinha como um dos seus objectivos abrandar um pouco a talvez excessiva cerebralização da classe intelectual do momento, puxando mais para questões dos sentimentos como a nostalgia e o amor.Questões que também fazem parte da vida, como é claro, mas que não contribuem, a meu ver, para o entendimento dos avanços da ciência ou da filosofia (embora eu não negue que possam contribuir para a sua motivação).

A verdade é que nem o Iluminismo nem o Romantismo têm de vencer.Ambos podem conviver com funções diferentes.A Visão Iluminista poderia ser a base da sociedade, o abrir de portas á vida,dando instrumentos aos cidadãos para raciocinarem coerente e universalmente. Por cima desta estrutura sólida e funcional haveria firmeza e espaço para cada um viver livremente as suas relações com as outras pessoas ou expressar a sua idividualidade despreocupado da estrutura universal e racional do mundo, usando-se, por exemplo, da Visão Romântica...

UNIDOS NA RAZÃO.LIVRES NO AMOR.

4 comments:

PuLhA said...

Pois bem, esta questão e muito parecida à anterior quando falámos no conceito de Felicidade.
Penso que não me vou demorar a repetir aquilo que análogamente já disse para a felicidade, mas a liberdade na minha opiniao nao deve ser procurada como um objectivo de importância elevadissima. Primeiro ponto ela nao existe, estamos sempre presos a algo, ou à alguem, seja aos nossos corpos às nossas necessidades ou aos nossos pensamentos. Mas nem sempre é prejudicial a prisao. A Liberdade e alem de um conceito logico, uma sensacao, e por isso nao nos podemos guiar pela procura dessa sensacao.
Vivemos há muito pouco tempo num regime que nos retirava as mais básicas das liberdades, e tivemos de lutar por elas, não porque nos sentimos aprisionados, mas porque nos era prejudicial (EXTREMAMENTE PREJUDICIAL).
Portanto a luta pela liberdade tem de ser uma luta lógica, racional, e nunca emocional. E estando a falar de um conceito dificil de definir e de emocao forte, e complicado separar aquilo que é o sentimento da razão.

Hoje em dia, derivado do regime ditatorial imposto sobre nós, a liberdade ganhou significado maior do que o justo, foi mistificado e ganhou importância sobrevalorizada. Não que não tenha valor.
Penso que o mais importante e mais básico, e a verdadeira liberdade pela qual TEMOS de lutar, é a liberdade de direitos. Depois de adquirirmos esta temos de cuidadosamente pensar nas liberdades que nos prejudicam e naquelas que nos sao essenciais. Tendo bom senso na escolhas das situacoes em que deixamos as nossas sensacoes nos guiar.

Tal como o bloguista disse, para nos guiarmos pelas nossas sensacoes sem sermos enganados pelas mesmas e importante bom-senso, e raciocinio logico. Qualidades que naturalmente recebemos, mas que sem educacao sao impossiveis de utilizar, a nao ser que o individuo em questao seja genial. A educacao e portanto fulcral, e o mais importante e o PENSAMENTO, algo que penso que falta na sociedade moderna.

Ora em relacao aos movimentos de pensamento enumerados, penso que elas representam os dois lados de todos nos, as duas dimensoes:

dedução vs intuicão
emocão vs raciocínio
animal vs humano

Ainda por definir estão os Domínios de cada um destes universos. Mas podemos tentar reconhecer as suas propriedades.

O lado intuitivo de todos nos provem dos nossos antepassados (almas, sangue, reencarnacao, codigo genetico). Sao os nosssos impulsos naturais, as nossas necessidades sentimentais( o medo, o amor, a amizade, a solidao, o desejo sexual, a fome, ... ).
Nada destas coisas sao racionais, e portanto nao se adaptam a realidade (a realidade e logica, e definida (na sua maioria) por conceitos logicos..). O medo nada tem de racional. É facilmente observavel nas pessoas com fobias especificas (aranhas, insectos, ... ), por exemplo.

Ora existe uma propriedade importante na relacao entre o racional e o intuitivo: Os sentimentos têm mais poder sobrte os pensamentos do que os pensamentos sobre os sentimentos.Um sentimento cira uma motivação para pensar em algo, enquento que um pensamento pode despoletar um sentimento particular, que mais uma vez irá criar a veradeira motivação para pensar.

Mas exactamente por os nossos sentimentos nao serem racionais eles nem sempre se ajustam á realidade.
Portanto para nos guiarmos neste nosso mundo, o pensamento livre de influencias provenientes dos nossos sentimentos é FULCRAL!!
MAS NUNCA ESQUECENDO A SUA IMPORTANCIA!!
O sentimento e tao importante como o pensamento!!
A diferença é que o pensamento nao nos pode enganar, só os sentimentos e que nos toldam o pensamento.
Mas nem sempre fazer o que faz mais sentido é o meljor; temos de dar a importancia devida aos nossos sentimentos.
Confiar em alguem nao faz sentido lógico nenhum!!
Mas é necessário á nossa convivência e (perdoem-me a expressao) felicidade.

Eu calo me agora.... :P

Anonymous said...

Acho que nos estamos a esquecer de algo muitissimo importante, a Liberdade só se pode considerar como tal enquanto não interfere com a liberdade dos outros indivíduos, ou seja, a única liberdade pela qual se tem lutado todo este tempo refere-se a todos os seres humanos e, portanto, a minha não deve interferir com a do meu semelhante. Penso que, seguindo esta definição de Liberdade, que não será talvez a mais pura, realmente cria limitações, mas então é apenas um problema de nomenclatura, e talvez não devamos perseguir a Liberdade mas uma "Liberdade Universal". Além deste factor "social" não podemos esquecer os factores biológicos, nos quais, vou incluir os sentimentos, não que sejam unicamente fruto de reacções químicas, mas por nos influenciarem às vezes tanto como a nosso corpo. É verdade que se não comermos morremos, mas também é verdade que a morte é apenas uma consequência da nossa escolha. Da mesma forma a dependência emocional não pode ser considerada como castradora de liberdades pois, além de envolver outra pessoa e portanto, termos de ter em atenção as liberdades dessa pessoa, é fruto de uma decisão nossa a de alinhar nas regras de uma relação.
Daqui se retira que realmente as quebras na nossa liberdade devem-se por vezes à própria liberdade, isto é, por vezes somos levados a escolher caminhos que nos tiram liberdades mas se for por nossa escolha e com conhecimento da situação, acho que não podemos considerar como uma real perda de liberdade.
Existe ainda a referida questão do conhecimento. Não podemos esquecer que se têm feito grandes progressos neste campo. O conhecimento está cada vez mais acessível a todos e esperemos que esta evolução continue, o principal problema é outro. Tem-se vindo a verificar um claro desinteresse pelo conhecimento e por quem tem mais conhecimentos do que a maioria. Os idealismos estão a desaparecer, e os objectivo das pessoas rege-se cada vez mais por objectivos fúteis, sem interesse na construção de uma sociedade melhor (no fundo, é aqui que se encontram esta discussão e a que tínhamos tido anteriormente). Aliás a própria sociedade (talvez os organismos políticos, talvez os organismos económicos, talvez todos) alimenta comportamentos desinteressados pelo conhecimento. Vemos um ensino cada vez mais virado para os resultados a níveis de taxas e taxinhas, em vez de se promover pessoas interessadas em saber, professores a dar aulas porque não tiveram outra alternativa e os que se esforçam e se preocupam com os alunos continuam no mesmo nível que aqueles que não querem saber, exames em que um problema é mais cotado se for resolvido da forma “x” (quereremos nós robots que só sabem resolver os problemas por uma receita e não pelo seu intelecto?), etc, etc, etc. Mesmo sem querer estamos a construir um ensino de ovelhas estúpidas que não pensam por si mas pelas fórmulas dadas nas aulas.
Além deste exemplo do ensino, e se calhar concentrando-me demais no exemplo português, nós não lemos. O problema vem dos nossos pais, para quem a leitura se resume à Bola ou Record para eles, e a Vip ou a Caras para elas. Ora um puto que cresça num meio assim, fora alguns casos excepcionais, não me parece que saia muito interessado pela ciência e pelo conhecimento.
Ainda por cima, com toda esta estupidez instalada, as pessoas que se interessam por outros assuntos além da bola e da Lili Caneças, ainda são rotuladas como geeks, como arrogantes, vulgo “tem a mania que é esperto” (não que o façam de propósito mas não podem andar a vida toda a fingir que não sabem o que sabem!) e totalmente ignorados pela sociedade. Não que eu pense que as pessoas que têm um pouquinho de conhecimento devam ser canonizadas, mas penso que devia ser esses os “roll-models” de uma sociedade.
È triste para mim verificar que quanto maior o acesso à informação, menos interesse nela as pessoas têm e sinceramente acho urgente fazer-se algo em relação a isso.

Resumindo, há realmente muita coisa ainda a fazer pela liberdade, há que estendê-la a todos os Homens, há que inspirar um espírito crítico e um desejo em relação à liberdade, e muito particularmente ao conhecimento. É urgente criar nas pessoas o desejo de liberdade de escolha, de consciência de escolha e ao mesmo tempo de respeito pelas escolhas e pelas liberdades dos outros.

garibaldov said...

Reparei que me esqueci de explicar a escolha dos sentimentos nostalgia e amor(e não especificamente o Romantismo) como não contributos directos(mas possíveis ajudas) para o avanço científico.
A escolha do sentimento Amor refere-se ao acto de resguardar e não esquecer outras dimensões da vida não tão racionalizáveis.
A escolha do sentimento Nostalgia refere-se, óbviamente à reacção ao avanço para o futuro, fazendo menção dos tempos vividos, outros valores, outras épocas, como a idade média a que se referiam muitos românticos(Tristão e Isolda é um tema-chave)...

Anonymous said...

A circunferência. A minha forma geométrica preferida.
Enganem-se aqueles que me julgam equivocada no post ou eventualmente no blog.
Não estou. Na verdade, escolhi precisamente esta Forma para iniciar o meu comentário sobre o post "Iluminismo e Anarquia".
Não posso deixar de encontrar muitas semelhanças nos seres humanos e aquela figura geométrica.
Falar da concepção humanitária desde logo tentando responder ás eternas perguntas "de onde somos?", "para onde vamos?" e "por que motivo aqui estamos?", pode ter uma resposta tão perfeita como a circunferência.
Desde logo porque nascemos num planeta - esférico - onde tudo o que por lá acontece tende a girar...continua e repetidamente. Somos seres dotados de inteligência inserida numa cabeça Redonda. Todas as nossas ideias, raciocínios, deduções, bem como as nossas emoções, sentimentos e convicções, "giram" dentro dessa Esfera. À primeira vista pode parecer-nos muito básico, mas na verdade se tentarmos ultrapassar o aspecto formal desta visão, podemos deparar-nos com a objectiva lógica da Natureza a funcionar, em pleno.
Senão vejamos: quando o ser humano sente - fenómeno não racional que despoleta acções e reacções - vontade de usar o seu intelecto para abordar as questões a que chamámos de eternas, utiliza pontos de referência lógicos, objectivos, conceitos. Todos estes utensílios mais não serão do que a tentativa de unificar o pensamento por forma a chegar ao mesmo ponto de análise qualquer que seja o indivíduo. Trata-se efectivamente de uma espécie de "guarda selectivo" das emoções dos sentidos, aqueles que a maioria das vezes não conseguimos controlar. Mas isso não significa que cada um desses hemisférios do cérebro sejam utilizados de forma separada. Não é isso, todos sabemos. Serão sempre complementares. Um bom exemplo disso mesmo são as diversas abordagens da compreensão do mundo.
Duas correntes de pensamento vieram precisamente confirmar estas duas distintas abordagens da "realidade". Para uns iluminados, o controle da ciência - lógica, racional e segura - seria o caminho único para atingir esse fim. Mas e o resto? Negamos a compreensão sentimental da "realidade"? Abstraímo-nos de todos os conceitos "a priori"?
Penso que terá sido este aspecto que deixou coxa esta forma de entendimento.
Mais tarde, numa espécie de superação da corrente anterior, surgem os românticos. Para eles a vida é acima de tudo os fenómenos que se sentem, virados para uma visão particular e subjectiva do ser humano . Será o homem um ser que se centra em si como fim último da Natureza? Seremos nós uns actores no palco da Vida? Mas é ela que nos conduz? Ou podemos ser nós? Esperamos entendê-la através das tragédias e fatalidades? O que Eu sinto é tudo o que existe?
O circulo fecha-se.
Somos tudo isso e isso tudo. Somos essencialmente o que cremos que somos. Dotados de inteligência, razão e lógica mas sobretudo de uma Natureza rica no sentimento e no sonho e nas convicções.
Temos tudo o que faz falta para chegarmos onde queremos. As ferramentas estão distribuídas . A harmonia é esperada. Temos a Liberdade para estender, restringir e até eliminar factores, dentro de nós tudo passa a ser possível . Com a Razão como ponto de partida ou de chegada, a aceitação e a ousadia de pensar e sentir é sempre uma decorrência humana. Agora, entramos num outro campo, o da Vontade. Aí é que o circulo de fecha ou abre, consoante as escolhas anteriores...
Para nos aceitarmos com igual respeito pela nossa raça, credo, ou até clube de futebol, tenhamos a coragem de acreditarmos em nós, de desconfiarmos de nos...e de sobretudo : nos pormos à prova!
Tudo isto tende a unir-nos num circulo perfeito, que culmina com a alternância que estas correntes vão produzindo no momento em que são estratégica e convenientemente usadas para se justificarem a si próprias.
"A forma segue a função" - Lavoisier